domingo, 6 de fevereiro de 2011

.:: Esboço ::.

A graça está em errar.
Desmontar-se em desacertos, ir de encontro à paredes de concreto.
Por quê?
Porque a matemática do viver é, justamente, caminhar do esboço à arte-final.
Frustar-se, pisar espinhos, tropeçar, desabar quando te passam uma rasteira.
A glória está em lograr êxito depois da ruína. Em tragar o fracasso para saborear a vitória.
É pensar nisso que faz com que os insucessos se tornem toleráveis aos nossos olhos.
É, simplesmente, o significado daquele desgastado ditado que comenta que 'tudo dá certo no final e o que ainda não deu, ainda não terminou'.
E coloquemo-nos no campo de batalha! Quase destruídos pensaremos que ainda falta muito para le grand finale. O combustível é a esperança.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

.:: Aqui ::.

Aqui os perfumes são mais intensos, as paixões arrebatadoras.
Os olhares são mais apaixonantes, o paladar mais agradável.
Aqui não somente nunca se esvanece o desconhecido, como não se termina a ânsia por desvendá-lo.
Aqui meu sorriso não oculta o pranto, mas o erradica.
Meus movimentos se vêem mais amplos, meu sono mais seguro.
Coração e mente soam consonantes, corpo e alma se consorciam num movimento desordenado de ânimos, como uma dança.
E posso voar, posso propagar meu ser e deixar minhas impressões em cada recanto. É como se eu fosse maior, como se me dobrasse e estendesse sem fazer vincos.
Aqui me vi nascer como antes pensaram haver visto em outro lugar.
Era só uma semente que nunca havia brotado ou faltavam-me folhas e flores.
Aqui sou o fruto doce e suculento que me alimenta, a própria flor que me embeleza e aromatiza. Aqui me basto porque sou feliz.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

.:: INCERTIDUMBRE ::.

Incertidumbre.
Atadas las manos, salto desde la cumbre.
Soy tan solo deseos, devaneos disparatados.
Corazones desregulados, pasiones que no importan ya.
Y lo que ayer parecía un sueño eterno, se reduce a nada.
Todo el entusiasmo se transforma en migajas que están hechas de ilusiones.
Bebo litros de realidad. Quimeras saben y huelen a decepciones.
Y me dicen racional, frívola.
Es que me gusta la verdad en su versión más cruda y desprovista de disfraz.
Quiero percatarme de si la sangre sigue corriendo por mis venas.
Quiero volver a dibujar una sonrisa enamorada en mi rostro. Maquillarme de alegría.
El hilo que separa el enamorarse del olvidarse es más debil de lo que imaginamos.
Cuidemonos de las trampas de eso que llaman amor.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

.:: Releitura ::.

Pertenço ao meu retiro aflito e posso ver a diafaneidade do vidro que forma a redoma dentro da qual sobrevivo.
Meu sorriso angustiado lacrimeja um pranto que, apesar de cinzento e silencioso, se vê coberto de recordações coloridas e iluminadas.
As janelas do passado, apesar de fechadas, permanecem acesas e, assim, posso ver por entre as frestas, uma luz incandescente, um fulgor incessante. E é do calor daquela e do brilho deste que abasteço minha existência. O choro torna-se a lenha que faz arder a chama do tempo decorrido. As lembranças são aquelas brasas que insistem em revelar-se por entre as cinzas, uma vez apagada a grande fogueira.E cada lágrima faz brotar faíscas, estas não me fazem menos feliz. Ao contrário, são capazes de me transportar até a fonte de felicidade que ficou em alguma cena do que esvaiu-se em páginas viradas de um livro inacabado. Sei que relê-las não é regredir.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

.:: DISSONANTE ::.



Enigmática, seu mistério salta aos olhos
Sedução tácita, guia passos aos escolhos
Gênio turbulento como a terra quando treme
Atributo assaz intenso, confiante, nada teme
Olhar delirante, que perturba e cativa
Corpo envolvente e curvilíneo, tão nociva
Pensamento hesitante, pois não sabe-se ao certo
Se convém ser distante ou lançar-se bem mais perto
Conduz ao perigo num vínculo eterno
Atalho ao paraíso com desvio ao inferno.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

.:: EXPERIÊNCIA ONÍRICA ::.


Acordei só, sem mim, sem felicidade e nem dor.
Estava entorpecida, havia perdido o vigor.
Não enxergava a luz, tampouco a escuridão.
As vibrações do mundo ao meu redor já não eriçavam minha pele.
Era como se estivesse neutra, esquálida, morta. Dormente, isolada, interrompida.
Afastada da convivência, incomunicável e patética aos olhos de quem me visse.
E era eu que via a mim mesma, pois estávamos desagregadas. Éramos duas estranhas.
O eu que me olhava era crítico, me escarnecia, negava minha existência.
Até sentia pena de mim, da minha sordidez, do quão figurava diáfana sobre a cama.
O eu que me observava já estava farto de mim. Arrodeava meu corpo deitado como uma fera que escolhe sua presa. Ansiava adentrá-lo, invadí-lo subitamente. Desejava dar tudo de si a mim.
É que eu já não tinha forças para ser sozinha eu mesma. Estávamos cansadas de sabê-lo.
Eis que, então, assenhorei-me do meu corpo. Minha face ruboresceu e já conseguia sentir aromas, sabores, paisagens. Não quero mais perder-me de mim, a parte que fica é sempre a mais frágil, a mais quebradiça. E a rijeza que se vai, tem de voltar para que eu possa viver.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

.:: Eis que a "Cuca" vem nos pegar ::.



Quando somos crianças, vemos arco-íris por todos os lados. Montes multifacetados, carrosséis e algodão-doce. Somos sinceros, sorrimos ou choramos quando bem queremos. Mas um dia, não sabemos ao certo qual, nossa inocência é malbaratada. Perdida, talvez roubada, ofusca-se. E a vida verte-se em armadilha, veste-se de perfídia.
A ignorância do mal tão característica passa a fazer parte do passado. O mal, então, torna-se objeto de desejo da maioria e de curiosidade dos que menos o praticam.
E fechamos as janelas e portas para não sermos atacados. Já não existem palhaços, bonecas , nem carrinhos de rolimã. Tudo são exigências, perseguições e responsabilidades. Não admite-se deslizes, estes são para os fracos ou para os bobos. E que felizes éramos quando bobos! Que poder detínhamos sobre os astutos. Agora enquanto sagazes detentores da experiência de vida, somos uns pobres tolos. Vivemos à mercê de uma busca incessante pelo sucesso e dinheiro, pelos amigos, amores e paixões, pelos perdãos e o reconhecimento. “Para quê?” Pode alguém vir a perguntar. Não é tampouco algo que saibamos por que acontece. Simplesmente tem de ser assim. Mais proveitoso era buscar formigas no quintal e dançar ridiculamente no meio da sala de casa. Daria tudo por um pouco mais de infância, por dormir menos e brincar mais na areia, poder assim deitar nódoas em meu vestido branco e caminhar imperiosa pelas ruas, sem ser criticada. Penso um pouco e consigo lembrar de quando catava seixos na praia de Boa Viagem para vendê-los, cada um, à cinco centavos. Como me sentia adulta! Que ingênua. Era indescritível comer batatas fritas em frente ao colégio e passar as mãos repetidas vezes pela farda, para desespero da minha mãe. Todo o medo que sentia resumia-se a uma velhinha na forma de jacaré, a tal Cuca.
E, levando em consideração os acontecimentos da maturidade, parece que ela é bem mais feia do que imaginava em meus pesadelos. “Saudade” é a palavra certa, a única que se encaixa com perfeição ao contexto. Estou certa de que cada um dos que lêem este texto podem lembrar-se de pequenas tolices de criança das quais sentem muita falta. Sorte que esta não deverá ser minha última vida, quero ainda viver muitas infâncias para aprender a valorizá-las tal como deve ser.