sábado, 23 de maio de 2009

.:: Caídos no esquecimento ::.



O diabo é o esquecimento. É essa mania incessante de depreciar o que já foi valioso.
A substituição de lugares , sentimentos , pessoas , prazeres . É por demais breve a vida útil dos nossos apegos . Às vezes apenas têm a durabilidade de uma troca de olhares ou de uma fase da vida.
Ah, objeto abandonado pelo afeiçoamento efemero : não te deixes abater! Logo virão outros tantos que te adorarão por mais alguns segundos dourados. Agarra-te ao fervor deste pequeno período , suga-lhe as energias temporárias, evita que outros tantos como tu venham a ser deixados igualmente pelo meio do caminho , não permitas que resultem estáticos , fatigados , apartados e mortos. Lembra-te que cada vez mais reduz-se o que há de humano a valores materiais , trata-se da tal mesquinhez da coisificação de tudo e todos e o que era gente torna-se um mero ser inanimado : descartável, descartado.
E é desta maneira que nascem as muitas “paixões da vida” do dia de ontem , uma nova de hoje , outra que surgirá amanhã . E pela estrada damos de cara com os muitos amores ligeiros arrebatadores , ou tantos outros que deixam marcas e permanecem sob a forma de lembranças , não menos deixados pra trás por conta disso.
Seguimos vivendo , correndo atrás do que nos dá prazer e glória , ora feiticeiros , ora enfeitiçados , aproveitando momentos e sendo desprezadores , contrapondo-nos aos contos de fadas com nossos finais bilaterais .

quinta-feira, 7 de maio de 2009

.:: So far away from me ::.



Hoje a minha fúria disfarçou-se subitamente de tristeza.
O bramido raivoso deu lugar às lagrimas , a voz ríspida ao silêncio.
E os conselhos dos que nada sabem sobre as minhas verdades não mais me encolerizam , agora passam a causar-me angústia . Repudio o parecer infundado de outrem sobre meus sentimentos e anseio por um “não-sei-o-quê” que parece estar iminente , por lugares , pessoas , cheiros e gostos desconhecidos , ou até mesmo conhecidos e deixados de lado por motivos quaisquer.
A vida me pôs algemas , me oprimiu , deixando-me apenas a opção de ficar insatisfeita , sem muito o que fazer para ver-me desobstruída como fôra outrora . Assim , dia após dia , me mantenho cabisbaixa e calada , respirando neste sítio sombrio que insiste em ser meu lar .

terça-feira, 5 de maio de 2009

Existe confiança cega ?



Uma das características que mais me incomoda nas pessoas é a hipocrisia. O tentar se fazer passar por uma coisa que é evidente que não é real. Expor-se a transmitir falsas emoções , falar da boca pra fora . Todo ser humano é passível de ressentir-se , susceptível de rancor . O totalmente bom é aquele que não foi analisado o suficiente para que fossem descobertas suas maldades. Não há teatro que não possa ser desvendado com uma boa dose de astúcia. Entretanto , é fácil deixar-se seduzir pelo “bom ator da vida real” , em geral este tem um inteligível dom de convencer .Não podemos viver à mercê da eterna desconfiança , velados e limitados por nossos próprios olhos receosos , prisioneiros da dúvida persistente : o outro está ou não sendo honesto?
Acreditar nos outros, na minha concepção, é muito aquém de ter fé . Pessoas que exerçam entre si uma relação de igualdade não podem inspirar a confiança necessária para que a fé seja nelas depositada. Então, decepcionar-se com seres humanos é uma questão de escolha , tanto os mais carrascos como os angelicais podem ser considerados prováveis enganadores, pois um e outro possuem a mesma capacidade de fazer o mal, os primeiros apenas despertam com mais facilidade a desconfiança dos demais, enquanto os outros, quando resolvem agir de má fé, se contradizem e provocam o desapontamento.E neste caso muito bem se pode empregar a sentença latina propagada por Hobbes : "Homo homini lupus" , pois entre lobos só nos resta sê-lo também.