
O diabo é o esquecimento. É essa mania incessante de depreciar o que já foi valioso.
A substituição de lugares , sentimentos , pessoas , prazeres . É por demais breve a vida útil dos nossos apegos . Às vezes apenas têm a durabilidade de uma troca de olhares ou de uma fase da vida.
Ah, objeto abandonado pelo afeiçoamento efemero : não te deixes abater! Logo virão outros tantos que te adorarão por mais alguns segundos dourados. Agarra-te ao fervor deste pequeno período , suga-lhe as energias temporárias, evita que outros tantos como tu venham a ser deixados igualmente pelo meio do caminho , não permitas que resultem estáticos , fatigados , apartados e mortos. Lembra-te que cada vez mais reduz-se o que há de humano a valores materiais , trata-se da tal mesquinhez da coisificação de tudo e todos e o que era gente torna-se um mero ser inanimado : descartável, descartado.
E é desta maneira que nascem as muitas “paixões da vida” do dia de ontem , uma nova de hoje , outra que surgirá amanhã . E pela estrada damos de cara com os muitos amores ligeiros arrebatadores , ou tantos outros que deixam marcas e permanecem sob a forma de lembranças , não menos deixados pra trás por conta disso.
Seguimos vivendo , correndo atrás do que nos dá prazer e glória , ora feiticeiros , ora enfeitiçados , aproveitando momentos e sendo desprezadores , contrapondo-nos aos contos de fadas com nossos finais bilaterais .